sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Tentei

Tentei chamar o teu nome
Para dizer que te amo.
Tentei perder-te...tentei ter-te.
Tento não morrer à fome
E sede de ti.

Tentei fugir em vão.
Tentei olhar para ti com renúncia.
Meu amor, tu e eu somos a denúncia
De que quem tanto foge assim
Tropeça nas pedras do chão
E aí não! Nunca mais foge.

Tentei, contudo, correr para os teus braços.
A cada passada que dava
No mar platónico afundava.
Tentei dizer-me que não te amava.
Mentira! Amo-te em todos os meus passos.

Tentei, à medida que te vou amando,
Tentei mostrar-te que talvez seja capaz
De te dar o valor que tu, Mundo, não lhe dás.
Tentei dizer-te tudo isto.
Afinal, tudo o que tentei ainda vou tentando.



07/12/09 Ricardo Alves

Prece minha. Obrigado Amália

Inspirado no poema "Prece", de Pedro Homem de Mello, cantado de forma soberba pela minha querida Amália, escrevi este poema há já algum tempo. Espero que gostem! Aproveito e deixo-vos com uma interpretação da Diva do Fado...

Talvez que eu morra por tanto
Bem eu te querer.
Talvez eu seja um dia santo
Mas isso só quando morrer.

Talvez eu morra na dor
Que é eu não te ter.
Vivo esta vida no pavor
Com medo de te perder.

Se bem que já te perdi
Tão cedo e sem errar.
Todo o dia fico sem ti
Morrendo por não te amar.

Talvez eu morra contente
Em minha solidão
Se por momentos do presente
Puder beijar a tua mão.

Talvez eu morra perdido
No meio de tanta gente
Com mares de mágoa pela frente
Sem ver à vida o sentido.

Talvez que eu morra vazio
Por culpa desta sina
Que fez de mim um homem frio
Que nem queimado se afina.

Se com a Morte criasse laços
E voasse que nem perdiz
Só pousaria nos teus braços
Para poder morrer feliz.

Ricardo Alves

É triste, mas é verdade

É triste, mas é verdade
A minha triste realidade,
A realidade do coitado
Que se faz de coitado
Tornando-se coitadinho.

A vida sem propósito
É a minha vida, um depósito
De tristezas e amarguras,
Amores sem amantes, lonjuras,
Um bicho cruel deveras mesquinho.

Não!
Porque pensas com sentidos, coração?
Que mal te faz uma alma que ama
Para que lhe roubes a calma, a chama?
Tudo o que dizes mas nada do fazes tem sentido.

Não há respostas para as minhas perguntas.
Não há, porque todas elas juntas
Te deixam sem língua afiada!
Resta admitir a lápide por ti colocada
Em minha mente: “Aqui jaz uma mente louca num coração rendido!”


00:07 16/12/10 Ricardo Alves

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

As Horas

É o tempo…
São as horas…
O contratempo…
As demoras…
O sofrimento…
O que passou…
O desalento…
Tudo aquilo que sou…
Não é nada que presta…
O que me resta…
As pessoas que o tempo levou…
Sinto-me cansado…
Viver é uma maldição…
“Porque teimas em correr”…
Meu detestável coração?
Pára de uma vez…
Já não te quero…
Chega de ser português…
Com epopeias de Homero…
São as horas, Amor…
É o tempo que me fere…
Há um desgosto, um dissabor…
É a Morte que me quer…
Vou continuar…
Vou lutar…
Mas é a Morte que me quer…


06/01/2011 Ricardo Alves

domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal dos Pobres

Não há bacalhau nem couve
Não há perú nem frango assado,
E muita sorte houve
Do pão não ter faltado.

É assim o Natal de quem
Para nada tem dinheiro
Enconsta a cara no travesseiro
E reza para que alguém

Te traga mais um pouco
Do nada que tens!
É assim o Natal rouco
De quem não tem bens

É assim que passa a magia
Desta época festiva
É apenas mais um dia
De uma tragédia repetitiva.

Não há doces nem alegria,
Nem música nem luzes,
Nem há árvore que nos guia
Só a fome que reduzes

Nos pensamentos que trazes
De dias melhores.
E mesmo depois de tudo o que fazes
Os Natais só são piores.

Não há sorrisos nem prendas
Não há nada para festejar.
Há uma fome para matar,
Há uma família que remendas

Com os carinhos que dás…
Mas nada é suficiente,
Continuas carente
De um Natal cheio de paz.

25-12-2011 Ricardo Alves

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Quando me faltas eu morro!

Rasgo os passos de dor
Numa turbulência de cor.
Vejo uma imensidão de borboletas,
Sobre uma flor, com asas violetas,
Esvoaçando desajeitadamente
Por entre a nuvem de gente
Que se forma nos campos.
Foram tantos, amor, foram tantos
Os dias em que por ti esperei
Sem saber que esperava. Agora que te achei,
Já nem eu próprio sei
O que é de Amor, o que é de Lei.
Os passos que dei, os trambolhões que sei
Amarguraram um pobre coração pobre
Que jaz a cada dia sobre
O Amor que em ti encontrei;
E sem que ninguém me conheça
Sou um mendigo da tua existência;
Não, meu amor, não é demência:
Contigo, não há nada que me entristeça.
E quando me faltas, socorro!
Acudam-me os deuses fiéis
Pois não há nada que prove, nem infindáveis anéis,
Que quando me faltas eu morro!



00:45 de 27/11/2010 Ricardo Alves

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Desabafo

Quero-te, meu bem…
Procuro-te todos os dias
E todos os dias te encontro
Só para te perder, não sem
Antes me perder em ti.
Os dias vão passando e,
Para além de te encontrar, vou-te conhecendo.
Esqueço-me sempre que é preciso conhecer para poder Amar!
Mas se já te Amo e mal te conheço, haverá espaço
Em mim para tanto Amor quando te conhecer?
Ou serei como as ondas do mar, que rebentam nas rochas
Só para voltarem a fazer parte da massa de água?
Não sei, meu Amor, não sei…
Mas aqui desabafo que te desejo, ardendo.
Sei que já te tentei dizer uma vez o que sentia
E sei que uma vez me mostraste que nem tudo é recíproco,
Mas eu não quero amar só por amar!
Quero amar e ajudar quem amo, nos bons e maus momentos,
Na saúde e na doença, quase como nos votos dos casamentos.
Vou-te conhecendo e vou-te percebendo.
Mas não tenhas medo: estarei presente quando estiveres pronta.
Sei que a história começa em “Quero-te, Desejo-te, Amo-te, Procuro-te”,
Sei que a história não tem fim.
O meio do “enredo”?
O que se passa nas entrelinhas é um desabafo da alma.


29-30/11/10 Ricardo Alves

domingo, 18 de dezembro de 2011

Como invejo as crianças

Adoro vê-las, sentadas, deitadas,
Em pé, a correr, a saltar,
Encostadas às portas fechadas
Que as protegem do ar

Fétido e pútrido que é a sociedade.
São as crianças, as pequenas criaturas singulares,
Que repartem o que têm, o que recebem, sem maldade,
Tornando-as criaturas tão belas!

Adoro vê-las sorrir, com aquela ternura
Escancarada no seu doce olhar,
Como duas janelas recheadas de doçura,
Algo para além do nosso imaginar.

Adoro vê-las, contentes, divertidas
Nas suas brincadeiras sem mentiras;
Os rapazes fazem com as mãos pistolas entretidas
Em resgatar os colares de safiras

Que irão oferecer às meninas
De quem gostam ingenuamente.
Estas, penteiam os cabelos, lêem sinas,
Brincam aos médicos e inventam gente.

Adoro sabê-las inteligentes, crescidas,
Com sete e oito anos,
Livres de grande parte das feridas,
Inconscientes da vida e dos enganos.

E é essa inconsciência que invejo
Ardentemente. Quem me dera!
E sabe-me tão amargo de culpa o beijo
Que lhes dou, pois desmistifico a minha fera!

Voltem, tempos da minha infância
Deixem-me ser de novo a criança
Que brinca na rua, descontraída.

Voltem, pois já sinto a vossa ausência.
Voltem, livrem-me desta demência
Que é saber demais da vida.

Não cresçam, crianças, não cresçam.
Permaneçam na vossa quotidiana alegria,
Percam apenas o sonho de crescer
Porque depois de grandes, vão-se arrepender.

Ah! Como invejo as crianças felizes.
Gosto delas, adoro a sua energia
Mas dói-me saber que a vida tem alergia
A toda essa perfeição.

Quero a vossa inconsciência, meninos,
Quero essa vossa essência, pequeninos,
Quero poder desfrutar dessa filosofia
Que protege o coração.

04/01/2011 Ricardo Alves

De cada vez que grito

De cada vez que grito “Meu Amor”
A minha cabeça simplesmente e somente atinge paredes.
Antes fossem colchões, almofadas ou redes,
Mas calha sempre uma superfície de maior dor.

Sempre que tento o que no fundo não passa de sorte
Denoto que não fui dotado da capacidade de amar.
Ou então fui demasiado dotado, sei lá, só que cansa tentar
Tanta vez para que no fundo só encontre a Morte

Do espírito, da alma, do pensamento.
Já lá vai, ó meus céus, o Tempo,
Em que tudo na vida era inocente.
Já lá vão os tempos em que era fácil ser gente!

Os melhores tempos de qualquer ser humano
São os ingénuos tempos de ser infante;
Não há nada que nesse tempo não encante,
Mas não há nada nesse tempo que revele o tirano

Mundo, tirano viver que é o nosso!
Saudades dos tempos em que era pequeno!
Saudades dos tempos em que tudo era sereno,
Tudo era ingenuamente alegre, a vida não era o tal poço

Que a pouco e pouco revelamos…
Pergunto e contesto como vamos,
Contesto a veracidade e necessidade do amor,
Essa vulgaridade inerente, capaz de curar ou causar tanta dor.

Ricardo Alves

Cada um tem seu caminho

Cada um tem o seu caminho,
Cada um tem a sua estrada,
Eu tenho a minha, amargurada,
Cheia de falta de carinho.

Sou um barco já de idade
Sem rumo, sem destino, sem velas;
E há uma imensa tempestade
Que me leva as coisas belas.

Trago nos olhos rios de amargura,
A boca pintada de saudade,
A cara repleta de borbulhas de desventura,
O coração pedindo piedade.

Tanta vida pela frente,
Tanto para aprender…
Venham ver, venham ver!
Um espectáculo de gente.

Venham ver, venham ver!
Despachem-se, venham assistir!
Quero dar-vos a conhecer
A minha pressa para morrer,
Esta vontade de partir!


06/01/2011 Ricardo Alves