domingo, 18 de dezembro de 2011

Como invejo as crianças

Adoro vê-las, sentadas, deitadas,
Em pé, a correr, a saltar,
Encostadas às portas fechadas
Que as protegem do ar

Fétido e pútrido que é a sociedade.
São as crianças, as pequenas criaturas singulares,
Que repartem o que têm, o que recebem, sem maldade,
Tornando-as criaturas tão belas!

Adoro vê-las sorrir, com aquela ternura
Escancarada no seu doce olhar,
Como duas janelas recheadas de doçura,
Algo para além do nosso imaginar.

Adoro vê-las, contentes, divertidas
Nas suas brincadeiras sem mentiras;
Os rapazes fazem com as mãos pistolas entretidas
Em resgatar os colares de safiras

Que irão oferecer às meninas
De quem gostam ingenuamente.
Estas, penteiam os cabelos, lêem sinas,
Brincam aos médicos e inventam gente.

Adoro sabê-las inteligentes, crescidas,
Com sete e oito anos,
Livres de grande parte das feridas,
Inconscientes da vida e dos enganos.

E é essa inconsciência que invejo
Ardentemente. Quem me dera!
E sabe-me tão amargo de culpa o beijo
Que lhes dou, pois desmistifico a minha fera!

Voltem, tempos da minha infância
Deixem-me ser de novo a criança
Que brinca na rua, descontraída.

Voltem, pois já sinto a vossa ausência.
Voltem, livrem-me desta demência
Que é saber demais da vida.

Não cresçam, crianças, não cresçam.
Permaneçam na vossa quotidiana alegria,
Percam apenas o sonho de crescer
Porque depois de grandes, vão-se arrepender.

Ah! Como invejo as crianças felizes.
Gosto delas, adoro a sua energia
Mas dói-me saber que a vida tem alergia
A toda essa perfeição.

Quero a vossa inconsciência, meninos,
Quero essa vossa essência, pequeninos,
Quero poder desfrutar dessa filosofia
Que protege o coração.

04/01/2011 Ricardo Alves

2 comentários:

Ana Ribeiro disse...

Acho que andamos todos a pedir para voltar à idade da inocência. Mas será que com inocência haveriam poemas tão belos? Duvido...
Parabéns, meu amigo. Estás a crescer pouco a pouco.

Ricardo Alves disse...

É verdade, parece que os mais conscientes vão-se apercebendo que o melhor mesmo é voltar a ser criança :)
A tua pergunta é bastante pertinente...de facto, na idade da "pequenice" não havia poemas assim tão...desenvolvidos...tão maduros :)

Obrigado e um grande bem haja!